‘Bolsonaro produziu um ambiente propício para a agressão de jornalistas’, aponta cientista político
Equipes de reportagem foram novamente agredidas por seguranças e apoiadores do presidente durante visita na Bahia, neste domingo (12)
São Paulo – Para o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem responsabilidade pelos reincidentes ataques de seus apoiadores e seguranças a jornalistas. Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, ele destaca que a violência é insuflada cotidianamente pelo próprio Bolsonaro em seus constantes ataques ao trabalho da imprensa. De acordo com Couto, o presidente da República “produziu ao longo do tempo um ambiente propício a esse tipo de agressão” vista no domingo (12), durante sua passagem pelo sul da Bahia, região afetada por enchentes nos últimos dias.
Equipes de reportagem da TV Bahia, afiliada da Globo, e da TV Aratu, afiliada do SBT, foram agredidas por agentes de seguranças da comitiva presidencial e apoiadores bolsonaristas em Itamaraju. Os seguranças, de acordo com o portal G1, formaram um cinturão para impedir a aproximação de repórteres no estádio municipal Juarez Barbosa. Um dos agentes segurou a jornalista Camila Marinho com a parte interna do antebraço, golpe comumente conhecido como “mata-leão”. A pochete da repórter foi arrancada por um apoiador do presidente e depois recuperada por outro jornalista.
Os jornalistas da TV Aratu Xico Lopes e Dário Cerqueira também foram agredidos. Um dos seguranças do presidente tentou impedir que repórteres se aproximassem com o microfone próximo a Bolsonaro. O secretário de Obras de Itamaraty, Antonio Charbel, que estava com apoiadores do presidente, puxou os aparelhos, arrancando a espuma de um microfone da TV Bahia. Em nota, o governo federal afirmou “não ser possível atribuir a autoridades episódios de hostilidade ou intimidações contra a imprensa”. Segundo o Planalto, “a postura crítica de Bolsonaro à imprensa não ultrapassa os limites da liberdade de expressão”.
Violência provocada por Bolsonaro
Para Couto, no entanto, desde quando os jornalistas acompanhavam Bolsonaro no chamado “cercadinho” do Palácio da Alvorada, “o presidente insuflava os apoiadores contra os repórteres que ali estavam”. “Muitas vezes ele fazia críticas aos jornalistas e pedia que a claque o acompanhasse”, ressalta. “Os jornalistas agora nem vão mais (no cercadinho). Vão apenas os veículos bolsonaristas fazer loas ao presidente.”
“Ou seja, ele produziu ao longo do tempo um ambiente propício a esse tipo de agressão. E Bolsonaro é daqueles que entendem que política se faz pela violência e aí a violência pode vir de qualquer lugar, de seus seguranças, apoiadores, da polícia na qual ele interfere, das forças armadas que ele tenta controlar, de todas essas frentes, dos milicianos…”, pontua. “O presidente chega falando ‘olha aí o que os jornalistas estão falando, o que vocês acham disso’ e coisas do gênero. É claro que vai produzir um ambiente e aí não precisa nem ser só no cercadinho, pode ser em qualquer outro lugar que esse mesmo tipo de comportamento tende a se repetir. E foi isso que a gente viu na Bahia neste final de semana”, observa o cientista político.
De acordo com Couto, esse tipo de ataque não poupa nem veículos mais alinhados ao governo federal, como o SBT. Ele aponta que há por parte do bolsonarismo uma intolerância a qualquer tipo de questionamento e crítica. O risco, contudo, é quanto ao acirramento dessa violência nas eleições presidenciais do próximo ano.
Na Bahia, Bolsonaro ataca governadores
Ainda na visita ao sul da Bahia, em Porto Seguro, Bolsonaro usou a tragédia, considerada a pior enchente dos últimos 35 anos, para atacar governadores e o distanciamento social.
“Também tivemos uma catástrofe no ano passado, quando muitos governadores – e o pessoal da Bahia – fecharam todo o comércio e obrigaram o povo a ficar em casa. Povo, em grande parte informais, condenados a morrer de fome”, disse ele.
As enchentes atingiram quase 70 mil pessoas, com cerca de 3,7 mil desabrigados. De acordo com o corpo de Bombeiros do estado, são 20 cidades em situação de emergência e outras sete em avaliação até a noite deste domingo.
Confira a entrevista
NOTA DO SINDICATO DOS JORNALISTAS DA BAHIA
Agressão de seguranças e apoiadores de Bolsonaro a jornalistas na Bahia são a face de um governo autoritário e violento
Em mais um caso de ataque ao trabalho da imprensa, duas equipes de reportagem – TV Aratu e TV Bahia – foram agredidas neste domingo (12) em Itamaraju, Extremo Sul do Estado, por seguranças e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Durante o episódio, mais um que se soma ao rol de fatos idênticos que envolvem este governo autoritário e violento, os colegas Chico Lopes e Dario Cerqueira (Aratu) e Camila Marinho e Clesriton Santana (Bahia) foram atacados para impedir que eles se aproximassem do presidente.
Segundo noticiou o Correio 24h, um dos seguranças segurou a repórter Camila Marinho pelo pescoço, com a parte interna do antebraço, numa espécie de “mata-leão” e teve a pochete roubada na confusão, que foi recuperada depois. Já o repórter Chico Lopes levou um tapa de outro segurança, quando a equipe do presidente tentou impedir que os jornalistas das duas emissoras erguessem os microfones em direção a Bolsonaro. Um apoiador atacou os microfones das equipes e rasgou a espuma que cobria o da TV Bahia, além de ameaçar desferir um soco em direção aos colegas.
Este comportamento agressivo do presidente e seus apoiadores não é novidade. Se há algo novo é que as ações estão se tornando cada dia mais explícitas e violentas. É da natureza deste governo e do bolsonarismo como corrente política a prática da intimidação e violência contra quem não o apoia da forma cega como faz parte de seus seguidores.
Na raiz da violência do presidente, seguranças e seguidores, está a postura antidemocrática e autoritária que caracteriza esta corrente política e é sua forma de imposição e reconhecimento. Este governo elegeu a imprensa como inimiga porque quer se esconder da sociedade e omitir da população a tragédia que são os três anos da pior gestão presidencial da história democrática do país.
Segundo levantamento feito anualmente pela Fenaj, desde 2019 vem crescendo o número de ocorrências de ataques contra a imprensa, sendo que mais de 40% destes casos estão diretamente ligados ao presidente e seus apoiadores. É evidente que o clima de violência contra jornalistas tem relação íntima com as falas de Bolsonaro e seus filhos, que fazem um discurso a seus seguidores mais radicais indicando parte da imprensa e do jornalismo como inimigos do governo.
O Sinjorba e a Fenaj se solidarizam com os quatro colegas agredidos e exigem que o Supremo Tribunal Federal (STF) se posicione sobre estas atitudes do governo, que já são fruto de uma Ação do partido Rede Sustentabilidade na corte. As entidades também pedem uma postura mais firme das empresas de comunicação contra as agressões e na condenação das mesmas, inclusive exigindo reparação judicial. Sindicato e Federação também convocam a categoria a uma reação mais coletiva, lembrando que em 2022 teremos eleições e este comportamento violento pode ser recrudescido e trazer trágicas consequências.
Moacy Neves – Presidente do Sinjorba (Sindicato dos Jornalistas da Bahia)
Maria José Braga – Presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas)
www.redebrasilatual.com.br/ Clara Assunção