Organização também destaca que a pandemia avança em velocidades diferentes entre vacinados e não vacinados
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou nesta quinta-feira (9) que a imunidade das vacinas contra a covid-19 se estende por até seis meses após a segunda dose aplicada, ou a dose única, no caso do imunizante da Jansenn. Nesse período, o risco de doença grave, internação ou morte diminui drasticamente, afirmou a diretora do Departamento de Imunização, Kate O’Bryan.
A médica explicou que, após esse período, a proteção induzida pelos imunizantes “não desaparece completamente”. Mas há um declínio da eficácia, principalmente em idosos e pacientes com comorbidades. As declarações foram feitas após análise de dados realizada pela OMS nos últimos dois dias.
O presidente do grupo de peritos que assessora o órgão, Alejandro Cravioto, ressaltou que as conclusões desses estudos apontam que as vacinas contra a covid-19 aprovadas pela própria OMS, bem como pela maioria dos órgãos reguladores, oferecem “uma proteção robusta pelo menos durante seis meses contra formas graves da doença”.
O grupo, no entanto, destacou que ainda é muito cedo para se manifestar sobre a variante ômicron. Nesse sentido, também ainda não é possível aferir a resposta das vacinas à nova cepa do vírus.
Kate disse também que a pandemia de covid-19 tem avançado em duas velocidades diferentes: entre os vacinados e os não vacinados. Para os primeiros, embora permaneça o risco de serem infectados, desenvolverão um quadro “moderado” da doença, na maioria dos casos. Contudo, “isso não deve ser interpretado de forma alguma como falta de eficácia das vacinas”, destacou a especialista. Por outro lado, os não vacinados representam entre 80% e 90% dos pacientes com infecções graves, internações e óbitos.
“À medida que a cobertura da vacinação aumenta, entre os novos casos haverá uma maior proporção que corresponde a pessoas vacinadas. Não é surpreendente que, havendo mais pessoas vacinadas, vejamos um número maior de infeções”, explicou.
A diretora da OMS chamou ainda atenção para o fato de a variante ômicron causar uma nova corrida por imunizantes nos países ricos. Dessa maneira, o esforço global para a contenção da doença não funcionará, “a menos que as vacinas contra a covid-19 cheguem a todos os países onde a transmissão continua, justamente em áreas onde estão a surgir variantes”.
África
No continente no qual a ômicron foi identificada pela primeira vez, o número de casos confirmados de covid-19 duplicou na última semana, também de acordo com a OMS. A região responde por 46% dos confirmados da nova variante em todo o mundo. No entanto, o número de mortes caiu 13% no mesmo período na região, totalizando 498 óbitos. Nesse sentido, a entidade afirmou que “há sinais de esperança”, já que o número de hospitalizações, na região, também vem se mantendo baixo.
Especificamente na África do Sul, primeiro país a registrar a nova variante, o número de pessoas diagnosticadas com covid-19 aumentou 255%. Contudo, o índice de hospitalização no país está em em 6,3%, “o que é muito baixo comparado com o período, quando o país enfrentava o pico da variante delta, em julho”, disse a OMS. Esses dados preliminares indicam, segundo a organização, que a ômicron pode causar “uma doença menos severa”, mas ainda é cedo para garantir.
Covid no Brasil
Hoje, o Brasil registrou mais 206 mortes pela covid-19. O total de óbitos chegou a 616.457 desde o início do surto da doença no país, em março de 2020. Foram registrados mais 9.278 casos confirmados nas últimas 24 horas, de acordo com Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Até o momento, 65% da população brasileira está totalmente imunizada, com duas doses ou dose única.
No entanto, de acordo com a epidemiologista Alexandra Boing, do Observatório Covid-19BR, é preciso pressionar o governo federal para que apresente cronograma de vacinação das crianças de 5 a 11 anos. Ela destacou que a Europa, por exemplo, tem registrado um recrudescimento do número de infecções nas crianças em idade escolar. Por outro lado, nos Estados Unidos, que já contam com 5 milhões de crianças vacinadas, não foi reportado nenhum caso de miocardite, principal risco apresentado na utilização dos imunizantes para essa faixa etária, o que demonstra que as vacinas são seguras, de acordo com a especialista.
Além disso, o coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, alertou que a Plataforma Integrada de Vigilância Integrada, do Ministério da Saúde, responsável pela testagem de vírus respiratórios, está sem atualização há quatro semanas. “Torcer muito para não termos nova onda, pois só saberemos caso tenhamos aumento de hospitalizações”, lamentou.