O Brasil está em marcha batida rumo à estagflação. Trata-se de evento econômico caracterizado por inflação alta e crescimento estagnado, associados a altos níveis de desemprego.
Neste ano, com o aumento da inflação e reajustes menores de salário, para muita gente, está ficando difícil comprar até o básico.
Na casa da ajudante de motorista Elis Ângela Gonçalves, os gastos com alimentação aumentaram e estão consumindo boa parte do orçamento.
“Por mês, ano passado, eu gastava em média R$ 250, R$ 300. Hoje estou gastando na base de R$ 500 para fazer a compra do mês”, conta.
No supermercado, ninguém discorda, e sabe o motivo: a inflação.
Básico está acima da inflação
Levar só o básico seria uma saída, mas não tem sido. Economistas da PUC selecionaram 13 itens essenciais na mesa das famílias, e mediram a inflação destes produtos, em 12 meses. O resultado foi índice de 15,96%, maior do que a inflação oficial no mesmo período, que ficou em 10,25%.
“Exatamente o básico está bem acima da inflação média. Essa não é mais aquela inflação que num mês subiu o tomate, no outro mês subiu a energia. Não, está tudo subindo simultaneamente”, explica o professor Jackson Bittencourt, coordenador do curso de Economia da PUC-PR.
Açúcar (38,37%), óleo de soja (32,06%) e carne (26,88%) estão entre os itens básicos que subiram muito acima da inflação medida pelo IPCA.
“Tudo, né? Tudo subiu”, diz cliente de um supermercado.
Trabalhadores sem aumento
O que não aumentou esse ano foi o rendimento do trabalhador: 90,5% das negociações salariais ficaram abaixo da inflação oficial. Na prática, quem está empregado está ganhando menos e pagando mais pelo que consome.
“O salário parado, não tem como”, comenta outro cliente.
Apenas 9,5% das negociações resultaram em ganho real para os trabalhadores. O levantamento é do projeto Salariômetro, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que analisou dados de 40 mil negociações em todo o País. A Fipe é vinculada à FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) da USP (Universidade de São Paulo).
“Eles não conseguem repor o que perderam durante os últimos 12 meses. Para crescer o salário, nós precisamos fazer crescer a economia. Tudo isso é reflexo da economia, agravada pela inflação que já está em 2 dígitos, o que é muito ruim”, diz Hélio Zylberstajn, coordenador do Salariômetro/Fipe.
Com a lista de compras cada vez mais enxuta, Adriano já sabe quem sai perdendo nessa disputa entre inflação e salário.
“A gente acaba passando um perrengue, dificuldade. Sofrendo mais ainda, tudo caro. É o básico do básico mesmo, porque senão não vai”, diz.
www.diap.org.br/ com informações do Jornal Nacional