Ao longo desses 19 meses pandêmicos vimos como “caminha a humanidade”. Da solidariedade à barbárie. Também a indiferença…
Testemunhamos o sofrimento causado pela #Covid-19, nos doentes e sobreviventes. Acompanhamos o descaso, o abandono, a negação, a mentira institucionalizada… Choramos a dor do outro, nos indignamos com as covas coletivas, nos acostumamos, perplexos.
A semana começou e uma filmagem me impactou profundamente. Nem nos delírios ficcionais eu poderia imaginar que o povo brasileiro pudesse atacar o caminhão de lixo. Não as lixeiras a procura de restos, mas o veículo compactador, ferramenta de trabalho dos coletores que recolhem os nossos resíduos domiciliares, que são transformados numa massa que não servirá para nada, pois não será reciclado.
A cena, registrada em #Fortaleza, é de chorar. Enquanto o trabalhador da limpeza urbana, conhecido como gari, tenta fazer o seu trabalho, um grupo de cidadãos brasileiros disputam os restos antes de eles serem destruídos. Inclusive correndo o risco de acidentes.
Não eram #pessoasemsituaçãoderua. Mulheres jovens e idosa, além de crianças e homens jovens vasculhando o lixo enquanto o coletor espera para aumentar a carga e fazer o seu trabalho. Muitos usando máscaras. Nada é jogado no chão, mas guardado em balde e sacolas.
No passado, acostumamo-nos com as cenas de pessoas “garimpando” nos lixões. Presencio hoje, na minha vizinhança pessoas a pé e até de carro vasculhando caçambas a procura de qualquer coisa que possa render um centavo. Também vemos gente virando latas a procura de comida…
Sabemos que podemos avaliar a riqueza de uma pessoa pelo seu resíduo, pelo que ele descarta. Na lixeira – ou nos itens separados para reciclagem, descobrimos hábitos pessoais e familiares e até mesmo a classe social. A política nacional de resíduos sólidos tenta regulamentar as regras e acabar com os aterros, mas a lei se arrasta na prática.
O brasileiro descarta cerca de um quilo de resíduos sólidos diariamente, de acordo com o #PanaoramadeResíduosSólidos. Os dados, compilados em 2010, revelavam um aumento de 12,4 milhões de toneladas se comparado a 2019. Em 2010 era descartados 79,1 milhões de toneladas de lixo. Como estariam os números em tempo de escassez econômica – e também consciência ecológica – onde quase tudo passou a ser aproveitado?
O lixo revela.
O que vimos em Fortaleza foi a degradação humana. Não pelas pessoas, mas pela sociedade. Uma tristeza indignada, uma revolta contida, mais um motivo para mudar o rumo da nossa história.
#lixotemvalor #gentetemvalor
www.construirresistencia.com.br/ Adriana do Amaral