O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou a Nota Técnica 263 nesta terça-feira (5) sobre a crise energética pela qual o país passa no desgoverno do presidente Jair Bolsonaro.
“A crise energética que o país atravessa não se deve somente à escassez de chuvas que vem secando os reservatórios das usinas hidrelétricas responsáveis pela maior parte da geração da energia no Brasil”, diz a nota.
E complementa afirmando que “essa crise resulta igualmente da falta de planejamento e de investimentos no setor nos últimos anos, especialmente da lenta expansão de fontes renováveis – como a eólica e a solar – que poderiam gerar energia adicional em períodos de estiagem”.
O Dieese explica a existência de dois tipos de fontes naturais de energia e o Brasil tem o privilégio de contar com 83% de fontes renováveis ao contrário do mundo onde 75% são de fontes não renováveis.
Mas como 64,9% da matriz elétrica do Brasil é hidráulica, a estiagem causa danos. “O problema é que falta planejamento no governo federal para lidar com a falta de chuvas”, assinala Ikaro Chaves Barreto de Sousa, diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel).
De acordo com Ikaro, “o nosso sistema deveria ser capaz de ter resiliência suficiente para atravessar a crise hídrica sem maiores transtornos” para isso “contamos com reservatórios de acumulação para armazenar energia em forma de água”.
A nota do Dieese explica ainda que “o Brasil dispõe de matriz energética diversificada e renovável, o que lhe confere condições bastante satisfatórias para o enfrentamento de eventuais turbulências na oferta de energia, sem correr o risco de desabastecimento”.
Mas “a falta de atenção do atual governo em defender a preservação ambiental com uma economia autossustentável o impediu de se preocupar com o desmatamento de nossas florestas, as queimadas indiscriminadas, que trazem mudanças bruscas no clima e provocam as longas estiagens”, analisa Sandra Paula Bonetti, secretária de Meio Ambiente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).
“O Brasil está na contramão das necessidades do planeta para frear a mudança climática que está nos destruindo”, acentua. Por isso, ela comemora os prêmios Nobel de Física e de Química, que “premiaram estudos referentes ao aquecimento global e à necessidade de se respeitar a natureza” e “como alertou Giorgio Parisi, um dos contemplados, não temos mais tempo a perder: o mundo pede socorro”.
Ikaro alerta para o risco de o país ter apagão. “A energia elétrica é um produto diferenciado”, diz. “Não se pode ter pouca energia ou se tem energia ou não se tem” e “se não houver água suficiente nos reservatórios para as usinas hidrelétricas funcionarem, corremos sérios riscos de apagões”.
O Dieese reforça também que a política do governo federal favorece a crise por causa do desprezo à questão ambiental e ao processo de privatização. “Os interesses do governo na questão da energia, são basicamente o de favorecer as empresas”, diz Ikaro.
“A política econômica de Bolsonaro e Paulo Guedes favorecem os bancos, as empresas de energia, principalmente as empresas de geração termoelétricas, as empresas que exploram petróleo, as donas de usinas termoelétricas e muito disso é controlado por bancos, por multinacionais” e “o governo brasileiro tem objetivo de garantir a maximização dos lucros dos acionistas dessas empresas, em geral, estrangeiros”.
Lembrando que a conta de luz teve um aumento superior à inflação. “No acumulado de janeiro de 2019 até junho de 2021, a tarifa média de energia aumentou 19,3%, percentual muito superior à inflação média apurada pelo INPC-IBGE, equivalente a 14,53% no período”, mostra o Dieese em sua nota.
“A privatização do pré-sal, da Eletrobras, da própria Petrobras estão nesse contexto de destruição do Estado e de entrega de nossas estatais para o setor privado, essencialmente o mercado financeiro, que quer ser dono de tudo para cobrar os preços que quiserem”, alega Ikaro. E “quem paga por tudo isso, são os mais pobres, para quem a inflação é mais danosa e o custo da energia incide fortemente em seus salários”.
Sandra ressalta a importância “de insistirmos na luta contra as queimadas, contra o desmatamento, em defesa das terras indígenas e quilombolas para que a natureza seja preservada, a mudança climática contida o mais rápido possível e assim o planeta volte a respirar e a humanidade sobreviva”.
www.ctb.org.br/ Por Marcos Aurélio Ruy