Igualdade de gênero no Afeganistão e no Brasil – A mulher continua sendo o negro do mundo, como disse John Lennon (1940-1980) para denunciar a opressão sofrida pelos negros e às mulheres em todo o mundo, nos anos 1970. Então o nosso problema maior não é o talibã. O nosso real grande problema está aqui e mora dentro de casa, muitas vezes.
A mídia causa intenso terrorismo por causa da vitória do talibã sobre os Estados Unidos, depois de 20 anos com o Afeganistão ocupado pelas forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Os talibãs voltam ao poder com o seu fundamentalismo e assombram.
Falam muto sobre as questões da mulher. Não permitirão que estudem, que trabalhem, que saiam de casa somente acompanhadas de algum homem, seja marido, pai, irmão e ainda vestidas sem deixar à mostra nenhuma parte do seu corpo.
Especialistas garantem que desta vez será muito diferente porque os talibãs necessitam de apoio internacional para se manterem no poder e conseguirem reconhecimento da comunidade internacional. A conferir.
Afinal, a mulher continua sendo o negro do mundo, como disse John Lennon (1940-1980) para denunciar a opressão sofrida pelos negros e às mulheres em todo o mundo, nos anos 1970. Então o nosso problema maior não é o talibã. O nosso real grande problema está aqui e mora dentro de casa, muitas vezes.
O Brasil é, de acordo com pesquisas, o quinto país do mundo mais violento contra as mulheres e o campeão de violência contra a população LGBTQIA+. Mulheres e meninas sofrem violência todos os dias no país. Milhares são estupradas todos os anos e a maioria dentro de casa e têm até 13 anos somente. A violência doméstica cresce assustadoramente. Então não temos nenhuma moral para falar dos talibãs ou de quem quer que seja. Precisamos resolver o nosso problema aqui e com urgência.
E não se trata de defender os talibãs e o fundamentalismo religioso, mas precisamos prestar atenção ao que diz a mídia, que se baseia nas agências de informação estadunidenses. As brasileiras devem permanecer engajadas cotidianamente na luta por igualdade de direitos. Ao mesmo tempo prestar solidariedade às mulheres de todo o mundo contra a opressão patriarcal. E seguir lutando.
No Brasil, o fundamentalismo religioso age para retrocedermos décadas nas nossas conquistas dos últimos anos. Inclusive o ministro da Educação, Milton Ribeiro afirmou recentemente que mulher deve estudar somente até o ensino médio e que universidade é para poucos, certamente homens brancos e ricos.
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves atua contra o movimento feminista. O desgoverno Bolsonaro extinguiu ou dificultou o atendimento a todas as mulheres vítimas de violência.
Em São Paulo, o governador João Doria também extinguiu várias políticas de atendimento às meninas e mulheres vítimas de violência. Não faz nada para impedir os espancamentos e assassinatos da comunidade LGBTQIA+. A juventude negra, da periferia, continua morrendo e não se faz nada.
Não querem o debate das questões de gênero nas escolas. Mesmo sabendo que é esse debate e uma educação sexual (que leve em conta a faixa etária das crianças e jovens) com didatismo e transparência para envolver toda a comunidade escolar nesse debate e com isso orientar as crianças e jovens a saber identificar onde termina o carinho e começa o abuso.
O corpo de toda criança é inviolável. Somente com informação de qualidade e bem planejada é que podemos combater toda violência contra as meninas e meninos. O Brasil precisa debater as questões de gênero e enfrentar de vez o fantasma da pedofilia e da violência contra as meninas e as mulheres.
Mas será que 20 anos depois, o mesmo grupo que tentou matar a ativista e Nobel da Paz, Malala, em 2012, que tinha apenas 15 anos, continuará da mesma forma?
Não sabemos ainda. O que temos certeza é de que as mulheres continuarão lutando por seus direitos seja no Afeganistão, nos Estados Unidos, na Europa ou no Brasil.
Heloísa Gonçalves de Santana é professora aposentada, secretária da Mulher da CTB-SP, Conselheira Regional de Representantes da Subsede Marília da Apeoesp e integra o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Marília (SP) .
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