Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Combustíveis da Bahia
/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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Uma nova pandemia, mais feroz e mais jovem: “Subestimei o vírus e me ferrei”

Wygner Oliveira, 26 anos e sem problemas de saúde, passou três dias na UTI com covid-19 em Goiânia.FERNANDO LEITE
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Mês de março registrou proporção recorde de jovens internados com covid-19 que se contagiaram quando o Brasil vive um cansaço do confinamento. “É uma nova pandemia, diferente do ano passado”, diz infectologista

Com mais 2.009 óbitos confirmados nas últimas 24 horas, o Brasil superou nesta quarta-feira (24) a barreira das 300.000 mortes pela covid-19. Em um ano de pandemia, o país demorou 10 meses para chegar a duas centenas de milhares de vítimas, mas completou o último terço do trágico número numa velocidade recorde: 11 semanas, entre 7 de janeiro e 24 de março. O contexto explica os dados que representam o auge da “maior crise sanitária de todos os tempos”, como classificou a Fiocruz: atrasos na vacinação, boicote às medidas restritivas, falta de auxílio emergencial e uma nova variante mais transmissível que infecta famílias inteiras —até os mais jovens, que eram imunes aos sintomas mais graves da doença, hoje também ocupam espaço nas UTIs brasileiras.

Wygner Oliveira, 26, foi um deles. Sem nenhuma comorbidade ou problema de saúde, o coordenador de marketing de uma empresa de fast-food em Goiânia testou positivo no fim de fevereiro. Segundo ele, precisava sair do home office para visitar restaurantes da capital do Estado uma vez por semana, quando provavelmente se infectou. Com a oxigenação abaixo dos 90%, aguentou seis dias de falta de ar, dor de cabeça e tonturas até o hospital ter oxigênio para interná-lo, em 28 de fevereiro. Chegou a ficar com 72% do pulmão comprometido na UTI e saiu apenas em 6 de março, um dia antes do indicado pelos médicos. Isso porque quis ir ao velório da sua mãe, dona Célia, 65, que morreu por conta da covid-19 no dia anterior. Ela, que ajudou o jovem antes de ser internado, precisou ser intubada quando Oliveira já estava na UTI.

“Não lembro dos dias na UTI, não sabia que ela estava internada. Foi muito dolorido”, diz o jovem. “Eu não tenho problema de saúde, não fumo e não bebo. Já estou há 12 dias em casa, mas não sinto gosto e cheiro de nada, tomo três remédios para evitar a necrose no pulmão, tenho queda de cabelo, dores de cabeça diárias, fraqueza e falta de ar de acordo com os movimentos que faço”, conta. A possibilidade de se tornar incapaz fisicamente, relata Oliveira, é seu maior medo no momento.

Goiás registra, nesta quarta, 98,34% dos leitos de UTI para pacientes com o novo coronavírus ocupados. São apenas nove leitos livres de 541 totais. Boa parte deles, ao que indicam os estudos, não é mais composta por idosos. Segundo levantamento feito pela Fiocruz, 48,4% do total de internações em março no país são de pessoas com menos de 60 anos, a maior proporção na pandemia. Em março de 2020, o número era de 41,8%, e em dezembro desceu para 33%. No Estado de São Paulo, a faixa etária não idosa já corresponde a mais da metade das hospitalizações: 50,8% —em dezembro, o número era de 39,8%. Segundo dados da Sivep-Gripe processados pelo Observatório Covid-19 BR, o número de infectados entre 15 e 29 anos dobrou em São Paulo de fevereiro para março, enquanto a porcentagem de hospitalizações dessa faixa etária saltou de aproximadamente 5% no mês passado para quase 12,5% do total ainda que, segundo a entidade, as porcentagens “com certeza” serão alteradas com a chegada de mais dados. “As subidas e descidas do fim são muito mais um efeito dos atrasos das notificações. Como o contágio está generalizado, e afetando todas as faixas etárias, o aumento em algumas idades que antes eram menores acabam chamando mais a atenção”, ressalva Rafael Lopes, do Observatório.

www.brasil.elpais.com /Diogo Magri

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