Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Combustíveis da Bahia
/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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Pesquisa mostra que trabalhador quer novos benefícios e manter emprego na pandemia

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As mudanças no sistema de trabalho por causa da pandemia da Covid-19 modificaram itens das pautas de reivindicações dos acordos coletivos. Trabalhadores reivindicam estabilidade e recursos para o teletrabalho

Os sindicatos dos trabalhadores e trabalhadoras de diversas categorias que estão no período de negociação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) estão adequando suas pautas de reivindicações às novas relações de trabalho, a partir dos efeitos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Essa mudança no perfil das reivindicações foi detectada por uma pesquisa com 620 profissionais do país, da consultoria de Recursos Humanos Robert Half, publicada no jornal Valor Econômico. Segundo a pesquisa, 86% dos entrevistados querem que as empresas incorporem novos benefícios mais adequados às necessidades dos trabalhadores na pandemia como auxílios psicológico, home office para compra de mobiliário e pagamento de custos, além de aportes na previdência privada.

Duas importantes categorias de sindicatos filiados à CUT, petroleiros e metalúrgicos, lideradas pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo (FEM-CUT), que estão em período de negociações dos ACTs, incluíram em suas pautas de reivindicações outros benefícios que antes não eram cogitados, após terem sido afetadas pela pandemia da Covid-19.

Para dar suporte às novas reivindicações, a FUP elaborou uma pesquisa e a FEM se baseou nas denúncias que recebeu, e no que seus dirigentes ouviram em suas bases. Tanto metalúrgicos como petroleiros reivindicam novos benefícios e melhores condições para o trabalho em casa, seja um auxílio financeiro para pagar as despesas extras como contas de energia e internet, seja na aquisição de equipamentos.

Outra reivindicação dos trabalhadores é o fim do “abuso” da importunação feita por chefias por meio de aplicativos de celulares em horários fora do trabalho que não tem sido contabilizado como horas extras por muitas empresas.

Segundo o presidente da FEM-CUT, Luiz Carlos da Silva Dias, o Luizão, uma das preocupações na campanha salarial é em relação à jornada. Há um abuso, um desrespeito das empresas que acham que o trabalhador tem de ficar 24 horas disponível. É o uso indevido das novas relações de trabalho que estão se consolidando agora.

“Precisamos regulamentar se atender o celular num sábado às três da tarde ou no domingo às oito da manhã e participar de uma reunião às oito da noite será considerado hora extra. Queremos evitar abusos das empresas porque todos estão dizendo que estão trabalhando mais em casa do que se estivessem dentro da empresa”, diz Luizão.

Também há empresas se aproveitando do trabalho em casa para negar o auxílio alimentação e o vale transporte. No entendimento da FEM-CUT é preciso manter esses auxílios para os cerca de 160 mil trabalhadores que estão no período de negociações dos novos acordos.

“Primeiro, porque as pessoas passaram a gastar mais com a compra de comida, mesmo que seja para fazer em casa. Também com o vale é possível pedir entregas de alimentação, o que deixa o trabalhador com o tempo livre para o descanso a que tem direito, em vez de se ocupar na cozinha. Segundo, porque o valor do vale transporte já foi incorporado à remuneração do trabalhador que podia pegar uma carona ou ir a pé até a empresa”, afirma Luizão.

A cobertura dos custos com internet e energia elétrica é mais uma das novas reivindicações. De acordo com o dirigente da FEM-CUT, os trabalhadores estão sendo cobrados para terem uma comunicação melhor, mas isto gera gastos que as empresas não querem arcar.

No caso do custeio de internet e energia, os petroleiros já colocaram em sua pauta de reivindicações um auxílio financeiro de R$ 250,00 por semana.

Saúde mental entra na pauta de reivindicações

A pesquisa da consultoria de RH mostra também que o auxílio psicológico durante a pandemia tem sido importante para 14% dos pesquisados. Segundo Bacelar, o plano de saúde da Petrobras já cobre esta necessidade. Mas, os metalúrgicos passaram a considerar ainda mais importante este item na quarentena.

“O pessoal administrativo sofre mais pressão por resultados do que os trabalhadores do chão de fábrica que estão na linha de montagem e sabem como aquilo funciona. Quem trabalha no escritório é que vem adoecendo psicologicamente, e em home office, por falta de horário determinado de trabalho esse problema tem se agravado”, afirma o presidente da FEM-CUT, entidade que agrega 188 mil metalúrgicos espalhados em 14 sindicatos em 56 cidades do estado de São Paulo.

Outras questões relacionadas à saúde no teletrabalho, de acordo com a FUP, é como serão feitos os diagnósticos de doença ocupacional como a LER por esforços repetitivos, seja utilizando o notebook ou mesmo o celular.

“É importante entender como será a definição de acidente de trabalho, como fica o diagnóstico de um acidente em casa, como o trabalhador será atendido. Também queremos que o trabalhador possa decidir se ele quer se manter em home office ou não . São questões novas que estamos colocando na pauta de reivindicações, mas que até agora a Petrobras não se posicionou ”, diz o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.

Para a FEM-CUT, as questões ergonómicas também são importantes porque nem todos os trabalhadores têm uma mesa e uma cadeira adequadas ao trabalho diário de oito horas ou mais.

“O trabalhador pode ter problema na coluna e também ter algum problema na vista se não tiver uma iluminação adequada. Por isso precisamos discutir também os cuidados com a saúde e segurança do trabalhador”, diz Luizão.

Estabilidade no emprego, a reivindicação da FEM-CUT

Além de todas as mudanças nas relações de trabalho causadas pela pandemia com excesso de jornada, cobranças indevidas, falta de equipamentos adequados e maior custo nas contas de energia e internet, os metalúrgicos sofrem com a insegurança de perderem seus empregos.

Estabilidade sempre esteve em nossa pauta. A pandemia reforçou essa bandeira de luta. O trabalhador já vive assombrado pelo presidente da República que temos [Jair Bolsonaro], com a pandemia e agora tem o fantasma do desemprego assombrando todo dia. Mas, o empresariado paulista não quer nem ouvir falar em estabilidade. É como se estivesse ouvindo um palavrão

– Luiz Carlos da Silva Dias

Segundo o presidente da FEM-CUT, nunca foi dada tanta atenção à estabilidade como neste ano. E por isso o lema da categoria é “Juntos pela Vida, por Empregos e Renda”, exatamente nesta ordem.

“Infelizmente o empresariado brasileiro, sobretudo o paulista, precisa deixar a mentalidade arcaica, e diante da pandemia ajudar a tranquilizar o povo brasileiro e não causar mais pânico. Eles ainda são escravocratas, acham que podem trocar trabalhador como bem querem”, conclui Luizão.

Pesquisa FUP para a pauta de reivindicações

Para fazer novas reivindicações, os petroleiros fizeram uma pesquisa piloto com os trabalhadores e trabalhadoras da base do Rio Grande do Norte. Uma nova pesquisa nos mesmos moldes está sendo feita desde a última segunda-feira (17) em todo o país. O resultado deverá sair nos próximos dias.

O pesquisador da subseção do Dieese do Sindicato Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro/NF) Iderley Colombini, diz que a pesquisa em âmbito nacional pretende além de traçar um perfil dos trabalhadores, ter uma avaliação a respeito do trabalho home office e com isso, ter uma percepção de quais dificuldades a categoria vem enfrentando, bem como entender os custos que seriam da empresa que agora foram transferidos aos seus funcionários.

“As empresas têm anunciado aumentos de produtividade, mas não repassam esses lucros aos trabalhadores. Não houve aumento de salários. Além disso, em casa a jornada de trabalho ficou mais flexível. Num escritório há pausa para o almoço, mas hoje você almoça respondendo mensagens da chefia, e também acaba trabalhando naquelas horas que perderia no transporte para chegar ao trabalho”, diz o pesquisador do Dieese.

Segundo Colombini, a pesquisa, embora responda quem quiser, tem o papel de mensurar e ajudar o processo de reivindicações junto à empresa.

“Com a pesquisa também queremos definir as relações de trabalho pós-pandemia que as empresas pretendem implantar , mas no momento não querem negociar. Não é possível que haja aumento de produtividade e os lucros fiquem não sejam divididos com os trabalhadores ”, afirma o técnico do Dieese.

Os petroleiros também reivindicam que eles possam decidir se continuarão em teletrabalho após a pandemia, já que a Petrobras sinalizou que manterá parte deles neste tipo de regime.

A direção da estatal, no entanto, segundo Deyvid Bacelar, tem colocado dificuldades na discussão sobre o teletrabalho, dizendo que por conta das duvidas e incertezas causadas pela pandemia não vai “amarrar” esses itens num acordo coletivo de trabalho.

Maioria dos trabalhadores quer incorporação de novos benefícios

A pesquisa realizada pela consultoria Robert Half revelou que 86% (533) dos 620 entrevistados concordam que seria interessante que alguns benefícios mudassem daqui para frente. Mas, apenas 40% (248) disseram que as empresas deram algum auxílio novo no início da pandemia.

Os novos benefícios mais desejados são aportes na previdência privada e  auxílio home office (para internet e mobiliário). Este último item só foi recebido por 8% (46) do universo pesquisado. Antes da pandemia este número era ainda mais reduzido (1%) ou 62 pessoas recebiam algum auxílio financeiro  para a aquisição de equipamentos para trabalhar em casa.

O benefício preferido entre os que receberam algum auxílio novo foi o psicológico com 14% da preferência, que correspondem a 35 pessoas.

Já dos benefícios atuais, o auxílio médico é o mais importante para 73% (452) dos entrevistados. No entanto, nem todos recebem. O auxílio médico é disponibilizado por 85% dos empregadores.

A pesquisa mostra ainda que benefícios como estacionamento, celulares e vale transporte agora ficam em segundo plano na lista de desejos dos trabalhadores.

www.cut.org.br /Rosely Rocha

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