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/ sexta-feira, novembro 22, 2024
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Verdades e mentiras sobre a covid-19: o que diz a ciência?

Cerca de 150 projetos estão em desenvolvimento por pesquisadores de todo o mundo, mas não há até o momento nenhuma vacina em circulação para evitar o contágio pelo coronavírus - Foto: Ascom Casa Civil e Tatiana Fortes
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Em meio à turbulência das notícias falsas, Brasil de Fato reúne o que já foi comprovado sobre a pandemia do coronavírus

Por ser uma doença até então desconhecida em todo o mundo, a covid-19 trouxe mais perguntas do que respostas. Medicamentos, vacinas, formas de contágio e contaminação, sintomas e sequelas são alguns aspectos da pandemia que ainda não foram elucidados em sua totalidade pelos cientistas.

Devido à urgência por respostas, no entanto, algumas explicações e soluções falaciosas acabam dando o tom de alguns cenários. Um deles é a busca desenfreada por remédios como cloroquina e ivermectina para tratamento e prevenção da doença, respectivamente, mas que cuja eficácia não possui nenhuma comprovação científica. A demanda foi tão expressiva que deixou as farmácias com estoques vazios.

Mas em meio a essa turbulência de informações e notícias falsas, quais são as verdades e mentiras sobre a pandemia do novo coronavírus? O Brasil de Fato esclarece algumas dúvidas sobre a doença da perspectiva da ciência.

Medicamentos 

Até o momento, não existe nenhum remédio com eficiência comprovada contra o novo coronavírus, seja para prevenção ou tratamento. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está pesquisando três medicamentos: rendezivir, que é um antiviral; lopinavir e ritonavir, uma dupla de antivirais. Mas os estudos ainda não foram concluídos.

Em outros laboratórios pelo mundo, são pesquisados alguns corticóides, que são antinflamatórios, e a terapia de soro de convalescente, que é usar os anticorpos de pessoas que já foram acometidas pela doença e se recuperaram e tentar adaptar isso como uma forma de tratamento. Mas, nesses aspectos, também não há estudos conclusivos.

Quanto ao uso de cloroquina e hidroxicloroquina, ambos antimaláricos e utilizados em portadores de doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatóide, não há evidência científica provando eficácia contra a covid-19. A OMS não recomenda que as substâncias sejam usadas para pacientes infectados pelo coronavírus, a não ser em testes controlados, uma vez que pode decorrer em efeitos colaterais cardíacos e outros como acidente vascular cerebral (AVC).

Em relação à ivermectina, utilizado em infestações por vermes e outros parasitas, e por veterinários, para combate de pulgas e carrapatos em animais de estimação, também é falso que a substância atua na prevenção da covid-19. Um estudo, da Monash University, na Austrália, mostrou que doses altíssimas da substância eliminaram o novo coronavírus em laboratório.

O problema é que a pesquisa demonstrou ação do remédio contra o corona in vitro, ou seja, não houve testes no corpo humano. Wanda Pereira Almeida, livre docente em Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Campinas (Unicamp), afirma que propagar o uso de um remédio apenas a partir de pesquisas in vitro desconsidera protocolos históricos e as consequências podem ser muito danosas.

Um dos efeitos colaterais da ivermectina é a chamada rabdomiólise, uma síndrome que destrói os músculos e que causa dores no corpo. O sintoma pode ser confundido com um dos sinais da covid-19.

Prevenção

Como dito, não há remédio para a prevenção de covid-19. Até o momento, o único método cientificamente comprovado é o isolamento social até o surgimento de uma vacina. Além disso, está comprovado que o uso correto de máscaras e de álcool em gel e a lavagem das mãos ajudam a controlar a disseminação do vírus.

Contaminação 

Cada pessoa contaminada pelo novo coronavírus pode contaminar entre três e cinco pessoas. A contaminação pode se dar por meio de contato entre as pessoas e por meio do ar. Em ambientes fechados o contágio é muito maior, sobretudo em ambientes com ar condicionado, onde a troca de ar é aquém da ideal.

Um grupo de especialistas solicitou à OMS que oficializasse a infecção pelo ar como uma possibilidade. O risco, de acordo com os cientistas, existe até mesmo se for mantida a distância de dois metros entre as pessoas nesses ambientes. Em resposta, a OMS divulgou um informe científico no qual passou a considerar o risco formalmente.

Sintomas

Os sintomas podem variar. Os sinais mais frequentes e geralmente iniciais são os respiratórios, como tosse e falta de ar, além de febre.

Mas já existem registros, por exemplo, de inflamações na pele (as chamadas dermatites), conjuntivite, perda de massa muscular, diarreia, tensão e dores musculares, dores de garganta, dor de cabeça, perda de paladar ou olfato, irritações na pele ou descoloração dos dedos das mãos ou dos pés.

Entre os sintomas graves estão: dificuldade respiratória ou falta de ar, pressão ou dor no peito e perda da fala ou capacidade motora.

A diversidade dos sintomas apresentados pela doença estão relacionados ao foto de que o coronavírus atinge todo o corpo da pessoa infectada. O vírus se espalha pelo organismo e vai se alojando em células do corpo, provocando inflamações que podem levar à morte.

Uma das grandes complicações pode ser a embolia, que é a obstrução da passagem de sangue nas veias. Isso pode levar o doente, por exemplo, a um infarto.

A letalidade está variando de 0,6% a 9%, e é mais alta nas populações vulneráveis. O período da doença pode chegar a 14 dias, mas a maioria manifesta a infecção entre o terceiro e quinto dia. A pessoa já pode contaminar outras pessoas entre dois a três dias antes de apresentar qualquer indício da doença.

Cerca de 20% das pessoas que contraem o vírus são assintomáticas, ou seja, não apresentam nenhum sintoma relacionado à doença. Do restante, aqueles 80% que apresentam sintomas, cerca de 80% terão um quadro mais brando e 20% precisarão de algum tipo de atendimento no hospital.

Sequelas 

Todas as doenças podem provocar sequelas no corpo em algum grau. Com uma doença até então desconhecida, as sequelas também vão sendo descobertas aos poucos. Até o momento, houve relatos de fadiga, fraqueza muscular, perda prolongada do olfato, falência pulmonar, cardíaca e cerebral, danos neurológicos, como déficits de concentração, alterações de apetite e humor,  ansiedade, depressão e estresse pós-traumático.

Imunidade 

Ainda não se sabe se, após a contaminação por covid-19, a pessoa ficará imunizada e, caso haja alguma perspectiva de imunização, por quanto tempo ela se prolongaria.

Teste

A testagem em massa possibilita aos órgãos públicos estimar o número de infectados em determinada região e realizar estudos sobre o vírus, o que permite a elaboração de políticas sanitárias com maior embasamento, mas não evita necessariamente a evitar o contágio pela doença naquela região.

Há diversos testes no mercado para identificar se uma pessoa foi infectada pelo novo coronavírus. Muitos deles foram aprovados rapidamente pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pela urgência da crise, mas reprovados pelo órgão depois de uma avaliação mais profunda.

O paciente com sintomas da covid-19 deve fazer um teste chamado RT-PCR, que pode ser feito do primeiro ao sétimo dia do início dos sintomas. O teste detecta o RNA viral, ou seja, a presença do vírus. Outro teste é feito com fluidos respiratórios. Este tipo de teste, não detecta propriamente o vírus, mas a proteína que este produz.

Após três semanas do desaparecimento dos sintomas, são realizados os testes sorológicos, que recolhem sangue do paciente e são divididos em duas categorias. A primeira detecta anticorpos totais, e indica dois tipos de resultado: positivo ou negativo. O segundo detecta IgG (imunoglobulina G), que é o anticorpo conhecido como “memória imunológica”, que vai defender o corpo de outras infecções do mesmo vírus.

Vacina 

Cerca de 150 projetos  estão em desenvolvimento por pesquisadores de todo o mundo, mas não há até o momento nenhuma vacina em circulação para evitar o contágio pelo coronavírus.

Entre as candidatas, 20 já estão em fase de testes em humanos. Duas delas estão na chamada “fase 3”, a última antes do registro por órgãos reguladores, quando milhares de pessoas são vacinadas para que se avalie a eficácia e as reações possíveis.

O estudo mais avançado é o desenvolvido pelo grupo farmacêutico sueco-britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, do Reino Unido. O Brasil é colaborador nessa tentativa, desenvolvida a partir de um adenovírus do chimpanzé. Dois mil voluntários brasileiros recebem a dose de teste na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Com o grito de urgência da pandemia, para que se chegue a uma vacina em tempo recorde é preciso pular etapas e investir pesado – o desenvolvimento convencional demora de dez a 15 anos. Nunca antes se colocou tanto dinheiro na procura pela proteção contra uma doença.

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