Em live realizada pela CTB nesta terça-feira (26), o professor baiano Renildo Souza, doutor em Administração e mestre em economia (UFBA), fez um balanço da economia mundia e nacional em meio à pandemia e afirmou que o cenário futuro, após a contenção do vírus, não será automaticamente “mais generoso, solidário e democrático. As mudanças que as forças progressistas defendem vão depender de muita luta”, acrescentou, argumentando que será necessária a criação de uma alternativa radical em contraposição ao neoliberalismo.
Na opinião do economista, o vírus tem por desdobramento uma “devastação avassaladora” da economia mundial. “Teremos em 2020 uma recessão maior do que a de 2008 e a pandemia comprometerá a economia global também em 2021”, sustentou.
Em sua opinião, os efeitos para as regiões e países serão distintos, em conformidade com a resposta sanitária e econômica dos governos. “Onde os governos foram mais assertivas, com providências imediatas e firmes para preservar a vida e amenizar os impactos econômicos, a recuperação da economia será mais rápida e efetiva”.
Depressão econômica
EUA, Europa e China, que constituem os principais centros econômicos do mundo, foram duramente atingidos e a guerra comercial entre EUA e China “ganhou novos elementos, mais políticos”, argumentou Renildo Souza.
Nos EUA, a taxa de desemprego, que estava em 3,5% no início do ano subiu a quase 20% em abril. É o maior índice registrado na história do país desde a Grande Depressão (1929-1933). “Isto já sinaliza as dificuldades para a futura recuperação da economia”, salientou.
Para o Brasil a última projeção do Banco Central indica uma queda do PIB de 5,9% para este ano, mas há economistas prevendo uma queda ainda maior, próxima de 10%. O real é considerado no exterior como uma moeda tóxica, que já acumulou 29% de desvalorização neste ano.
Trabalhadores
“Os trabalhadores mais pobres, mais vulneráveis, serão duramente atingidos”, observou Reinildo Souza.
A crise evidencia os limites do ideário neoliberal do Estado mínimo ao forçar os Estados nacionais a realizar intervenções pesadas nas economias para amenizar seus efeitos econômicos e sociais. “Os países ricos vão assumir um aumento de US$ 17 trilhões em suas dívidas públicas”, comentou.
Mesmo no Brasil, o ministro Paulo Guedes, cuja primeira reação à crise foi declarar que ela seria combatida com a aceleração de reformas neoliberais (tributária e administrativa), teve de recuar, embora com relutância e de forma restrita.
“A equipe econômica não quer recorrer à emissão de dinheiro, que é a forma mais eficaz e barata de garantir os investimentos necessários para fazer frente à crise”, afirmou o professor, sugerindo que o neoliberalismo não sairá de cena por causa da Covid-19.
Os recursos alocados para enfrentar o problema são insuficientes e desiguais. Aos estados e municípios, sufocados pela abrupta queda de arrecadação, foram destinados R$ 60 bilhões, que não cobrem suas necessidades, enquanto eram disponibilizados mais de R$ 1 trilhão para os bancos. Guedes insiste ao mesmo tempo na obra de destruição de direitos e conquistas da classe trabalhadora e está em campanha contra o funcionalismo.
Neoliberalismo
No Brasil, lembrou o economista, a hegemonia neoliberal foi consolidada a partir dos anos 1990 e, hoje, é a ideologia não só de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, mas também da Rede Globo, da Folha de São Paulo, dos cardeais do PSDB, bem como de economistas cevados pelo tucanato como Persio Arida, Armírio Fraga e Afonso Celso Pastore.
A filosofia que orienta tal pensamento advoga a destruição do Direito do Trabalho, privatizações, austeridade fiscal com cortes de investimentos e gastos públicos, abertura indiscriminada ao capital estrangeiro e política externa vassala dos interesses dos EUA.
Bolsonaro fala muito em pátria e Brasil acima de tudo, mas na verdade pratica uma política entreguista, transferindo riquezas nacionais ao capital estrangeiro e subordinando a política externa do Brasil aos desígnios imperialistas dos EUA, denuncia Renildo.
Em sua opinião, a agenda de restauração neoliberal tende a dominar o cenário pós-pandemia e será preciso muita luta para derrotá-la e pavimentar o caminho para um novo projeto nacional de desenvolvimento com soberania, democracia e valorização do trabalho.
Ele mencionou também, como aspecto central da conjuntura, a guerra fria entre EUA e China, que reflete a disputa pela liderança geopolítica do mundo, acentuando que as duas superpotências desenvolveram estreita interdependência econômica ao lado das contradições pollíticas agravadas pela Covid-19.
Os EUA defendem o protecionismo para o seu mercado interno e querem o livre comércio e a livre circulação de capitais para suas empresas. A China defende um projeto de desenvolvimento pacífico, sem intervenções em outros países, e fundada no multilateralismo.
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