Mesmo após o episódio, a empresa Autoliv do Brasil não demitiu os funcionários que cometeram crime de racismo e danos morais
O caso aconteceu em 2015. Segundo o processo, a funcionária saiu mais cedo do trabalho e, no dia seguinte, dois superiores passaram fita crepe nos pulsos da vítima e em seus próprios braços, prendendo a funcionária a eles. Em seguida, a mulher de 42 anos foi arrastada pelo galpão da empresa para servir de exemplo para outros funcionários não cometerem o mesmo erro. A ação foi confirmada pelos acusados em depoimento.
Além de ter sido agredida fisicamente, a funcionária também sofreu um caso de racismo dentro da empresa. De acordo com o processo, um dos chefes parabenizou a mulher pelo seu dia. A vítima ficou sem entender o que acontecia, pois não era dia de seu aniversário. Ao indagar por que estava recebendo parabéns, o chefe respondeu: “Por ser o dia do negro, em referência ao Dia da Consciência Negra”.
O autor da fala, chamado no processo como “Sr. Paulo”, confessou o que tinha dito à sua funcionária. No entanto, o superior aproveitou para afirmar que conhece pessoas negras em seu âmbito familiar e social e que elas foram igualmente parabenizadas. Segundo a advogada Shayda Daher de Souza, que defende a funcionária, os superiores que cometeram a ação continuam trabalhando na empresa até hoje.
Ainda segundo a advogada, a empresa Autoliv do Brasil provavelmente não irá recorrer na 3ª instância, pois responde a outros vários processos trabalhistas. “Quando acontece esse tipo de coisa no interior, as pessoas ficam com medo de denunciar, principalmente porque o processo precisa de testemunha. O acolhimento que fiz com essa mulher para incentivá-la a entrar com uma ação foi essencial. Precisamos incentivar as pessoas a não se calarem perante a isso”, disse.
Além deste caso, Shayda defende outros clientes contra a Autoliv do Brasil. “Isso vai de encontro com o que está acontecendo no Brasil. A destruição dos direitos trabalhistas parece que está tudo bem, mas é notório que não está, por isso a justiça trabalhista é tão importante”, ressaltou Shayda.
Em primeira instância, a juíza Francina Nunes da Costa, da 1ª Vara do Trabalho de Taubaté, havia fixado indenização no valor de R$ 620 mil, levando em conta que a empresa é de grande porte, mas o valor foi diminuído na 2ª instância. Para Shayda, mesmo com a diminuição, a decisão é muito importante, pois mostra que há empresas que ainda tratam seus empregados com desrespeito e sem nenhuma humanidade.
A reportagem de CartaCapital tentou entrar em contato com a Autoliv do Brasil, mas todos os telefones estão fora do ar. Procuramos também os advogados da empresa, que também não atenderam às chamadas. Caso haja resposta, ela será adicionada à esta reportagem.
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