Nesta quarta-feira (13), quando completamos 132 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, de maneira surpreendente e angustiante podemos conhecer a capacidade de destruição provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Além de escancarar nossa ridícula fragilidade humana, coloca como desafio à sociedade a alta capacidade de organizar, coordenar e estruturar recursos e logística indispensáveis para viabilizar a construção de estratégia e ações de proteção da vida, da saúde e da integridade física e material, assim como planejar ações de retomada para o futuro.
Seu impacto brutal e a irradiação de suas consequências catastróficas se sobrepesaram aos demais desafios que já estavam em curso, representados pela gravíssima crise política, econômica e social e pela dificuldade para a promoção de reformas inadiáveis. Essa situação extremamente delicada traduzia as graves dificuldades do país e desafiava, da mesma forma, toda a capacidade de gestão e resolutividade das forças sociais e políticas.
Essa catástrofe inédita, além de ceifar a vida de milhares de brasileiros e dizimar integralmente setores inteiros do ambiente empresarial e corporativo, em especial micro, pequenas e médias empresas, está produzindo uma conta social inédita de quase R$ 800 milhões que irá impactar de forma estrondosa a capacidade do Estado de financiar e disponibilizar políticas públicas e garantir o crescimento econômico, assim como atender adequadamente às emergências sanitárias.
O caos produzido pela Covid-19 escancarou e iluminou as profundas desigualdades que estruturam a vida da maioria dos brasileiros e de como o esforço para ficar em casa divide de maneira desigual o sofrimento e a privação. Principalmente a parte mais vulnerável e necessitada dos brasileiros, que ficará sem emprego, salário e condições de garantir a sobrevivência de suas famílias. Apontou ainda, com mais ênfase e efetividade, a forma como deverá aprofundar as distâncias sociais e sacramentar as injustiças entre grupos de brasileiros.
O editorial “A cor da renda”, publicado na Folha de S.Paulo no domingo (10), acerta ao chamar atenção para o grave desequilíbrio que divide os brasileiros negros e brancos. No limiar do século 21, a diferença de renda entre negros e brancos alcança o patamar de 55,8%; 47,5% deles são trabalhadores informais, e 66% dos homens e mulheres negros compõem o grupo dos desocupados e os subutilizados no mercado de trabalho brasileiro.
Herança da longa escravidão, parece que os negros são os que mais morrem nessa pandemia, pois são a classe mais empobrecida. Ocupam favelas que muitas vezes não tem água potável, estão expostos a uma mobilidade urbana que aglomera (trens, ônibus, metrô) e, ainda por cima, detém grande comorbidade, passando longe de assistência médica de qualidade. Os negros serão novamente castigados. Inviabilizados no seu trabalho informal e inelegíveis por todas as carências sociais e burocráticas, sofrerão impiedosamente para acessar recursos governamentais, retornar ao mercado de trabalho e manter a duras penas sua carteira na universidade.
É sob esse aspecto que o país estará desafiado para revisitar e reconstruir seu olhar e sua realização no combate à diminuição das desigualdades e na construção de políticas públicas que possam garantir a participação equitativa dos negros brasileiros.
O coronavírus irá exigir a construção de um país mais responsável, justo e equilibrado. Poderá ser também uma janela de oportunidades para construirmos uma relação racial e social nova e diferente: sem racismo, sem discriminação e com oportunidades e possibilidades iguais.
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